As Coisas
Georges PerecEscapando das armadilhas formais tanto da literatura engajada (sartriana) quanto do nouveau roman, Georges Perec inicia na década de 1960 um originalíssimo percurso literário. Depois de anos de esboços, esse jovem parisiense percebe que deve fazer de si próprio uma espécie muito particular de escritor realista. Na sua brevidade, As coisas traz em germe o projeto que nortearia o enorme puzzle de A vida modo de usar. Menos interessado em criar uma intriga envolvente que em descrever uma realidade na qual está tão implicado quanto qualquer pessoa de sua faixa etária e condição social, Perec pesquisa o mundo dos objetos imantados de significado pela linguagem da publicidade.
Para além das alusões sibilinas à Educação sentimental de Flaubert, uma das peças do puzzle, As coisas se impõe pela atualidade de sua visão dos delírios de consumo da classe média: “Estavam enfiados até o pescoço num bolo do qual nunca teriam mais que as migalhas”.